terça-feira, 23 de setembro de 2014

Uma questão de escolha

Acredito que o verbo "escolher" é uma das palavras que mais nos exige. "Faça uma escolha!" Com essa frase é possível prever uma série de ações sucessivas que derivam desse verbo.

Escolher um prato em um restaurante, escolher uma cor de casaco, escolher qual filme assistir, ou escolher um quadro, uma profissão ou ainda um político em quem votar. Por mais que a gente queira muitas vezes culpar o destino, ou ainda, a sorte, estamos à mercê das nossas escolhas.

E ainda, passamos a vida toda tentando afirmar ou negar nossas escolhas previamente feitas: com quem nos relacionamos, qual carreira decidimos seguir, ter ou não ter filhos, ser ou não ser vegetariano, votar ou não, e se sim, em quem?

Lutamos pelo direito e pela vontade de escolher, mas ao mesmo tempo, morremos de medo de tomar uma decisão. "Qual dos dois?" ou simplesmente "qual?". Tão difícil decidir ainda mais quando, muitas vezes, parece que estamos sem opção nenhuma.

Isso porque no fim das contas, escolher é um primo-irmão da palavra pertencer. É abrir mão de um lugar por outro, é ficar em um lugar, mesmo depois de se arrepender por não ter escolhido o outro, é redesenhar uma nova versão de você em uma nova folha de papel chamada "situação".

Sinto dizer que abrimos muitas possibilidades, mas agora, é preciso saber escolher dentre elas e propor novos desenhos, mesmo que sejam baseados em traços anteriores. Mesmo que não se queira, o ato escolher é inevitável.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Vou voltar...

Muitas vezes ir a algum lugar é mais fácil do que voltar.

Voltar implica parar, mudar de sentido e depois seguir adiante...ou seria, seguir ao "antes"?
Mais do que mudar a rota, para voltar a algum lugar é preciso coragem. Não precisa juntar todas as forças e toda a coragem que você já teve dentro de si próprio, mas pelo menos, um momento de vontade certeira, de passo firme e de olhar novamente a rota que uma vez você já traçou.

Voltar pode ser ainda uma grande mentira. Pensar que se volta a um lugar e o encontra exatamente como estava quando você foi embora é pedir para nunca ter ido embora. É enganar-se sobre o instante e sobre as consequências dos seus atos que se transformam de forma inexorável, acreditando que somos rodeados de "máquinas do tempo" e que podemos rescrever as nossas rotas.

Voltar é pedir um abraço a um amigo de infância. É pedir conselho a quem te quer bem, mas tendo em mente que nem sempre isso consegue te ajudar. É sorrir por dentro e transbordar por fora aquilo que mais te marcou. É degustar uma lembrança como se você se lambuzasse de bolo igual criança.

Voltar pode ser um aperto de mão arrependido que se transforma em abraço. Pode ser o remédio para uma dor que precisa de um passo pra trás pra depois seguir em frente. Pode ser o reencontro com aquilo que te dá uma resposta ou com outras perguntas.

Voltar é um verbo que se conjuga em outras ações. Exige direção e sentido, pede por vontade de se transformar em realidade. Muitas vezes, voltar pode ser sinônimo de fracasso: deparar-se com a culpa de uma escolha impensada ou com o fruto do que você deixou. Vivemos na regra que crescer é olhar para o futuro, que realizar é fazer-se presente e que devemos sempre seguir em frente. Mas às vezes, o seguir em frente pede uma nova rota ou uma antiga rota que você deseja passar de novo, que você precisa passar de novo e olhar como ela mudou, e ao mesmo tempo, como ela permaneceu. Por um pouco mais de um instante de reconhecimento ao olhar à sua volta...você percebe que está na hora de voltar a continuar a sua nova rota...